Dilma propõe grande pacto para o País

23/06/2013 05:09

A presidente anunciou ontem à noite, em rede de rádio e TV, as ações que seu governo pretende executar para atender aos protestos

A presidenta Dilma Rousseff prometeu chamar os governadores e prefeitos das principais cidades do País e os líderes das manifestações populares para um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos. Em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, Dilma anunciou que as ações do governo terão três focos.

O primeiro será a elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana, que privilegie o transporte coletivo. O segundo é a destinação de 100% dos royalties do petróleo para a educação, proposta que está em discussão no Congresso. Para melhorar a saúde, Dilma prometeu trazer mais médicos do exterior para ampliar o atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS).

De acordo com a presidenta, o vigor das manifestações pode ser aproveitado para que sejam tomadas medidas que beneficiem a população e já começaram a produzir resultados, como a redução das tarifas de ônibus em diversas cidades brasileiras.

“As manifestações desta semana trouxeram importantes lições. As tarifas baixaram e as pautas dos manifestantes ganharam prioridade nacional. Temos que aproveitar o vigor das manifestações para produzir mais mudanças que beneficiem o conjunto da população brasileira”, declarou.

A presidenta citou a trajetória de defesa da democracia durante a ditadura como motivo para levar as reivindicações em consideração. “A minha geração lutou muito para que a voz das ruas fosse ouvida. Muitos foram perseguidos, torturados e morreram por isso. A voz das ruas precisa ser ouvida e respeitada e não pode ser confundida com o barulho e a truculência de alguns arruaceiros”.

Dilma disse ainda que não deixará de combater a corrupção. “Sou a presidenta de todos os brasileiros. Dos que se manifestam e dos que não se manifestam. A mensagem direta das ruas é pacífica e democrática. Ela reivindica um combate sistemático à corrupção e ao desvio de dinheiro público. Todos me conhecem. Disso eu não abro mão”.

A presidenta prometeu conversar, nos próximos dias, com os chefes dos outros poderes, governadores e os prefeitos das principais cidades do País para um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos. Ela anunciou ainda que pretende receber os líderes das manifestações pacíficas, representantes de organizações de jovens, das entidades sindicais, dos movimentos de trabalhadores e das associações populares.

A mensagem foi ao ar em cadeia nacional de rádio e TV. Dilma passou o dia discutindo os protestos e manifestações que ocorrem no país e que na quinta-feira reuniram quase 2 milhões de pessoas em 438 cidades. De manhã, a presidenta se reuniu com ministros, entre eles o da Justiça, José Eduardo Cardozo. Também recebeu o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Raymundo Damasceno.

A onda de manifestações pelo país começou em São Paulo, reivindicando a revogação do reajuste da tarifa de ônibus de R$ 3 para R$ 3,20. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito da capital, Fernando Haddad, voltaram atrás no reajuste, mas os protestos continuaram e se ampliaram pelo país.

Entre as causas defendidas pelos manifestantes estão o fim da impunidade, da corrupção e a crítica aos gastos públicos com a Copa das Confederações e a Copa do Mundo. Também são contrários à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 37, que limita o poder de investigação do Ministério Público. 

‘Protestos devem gerar avanço de direitos’

O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho reconheceu nesta sexta-feira que os governantes têm de ter “suficiente autocrítica” para compreender as manifestações que tomam conta das ruas das principais cidades do País.

“Estamos vivendo um momento muito particular para o País. Nós temos de ter suficiente autocrítica, abertura de espírito para perceber o que as manifestações estão nos dizendo. E nós temos de ser capazes de entender essa mensagem e fazer com que esse movimento se canalize para o bem do País, para o avanço dos direitos, para a conquista de serviços de um tipo de governo que, de fato, atenda à necessidade do povo”, disse o ministro, durante reunião preparatória para a Jornada Mundial da Juventude, que ocorrerá de 23 a 28 de julho no Rio de Janeiro. O evento é organizado pela Igreja Católica.

Na edição desta sexta o jornal O Estado de S.Paulo aponta que o governo tem dificuldades para tratar o movimento. A presidente se irritou com a postura do presidente do PT, Rui Falcão, que conclamou militantes para uma passeata. Os manifestantes rejeitaram a presença de partidos e petistas acabaram hostilizados. "Sem partido”, repetiam manifestantes contrários à partidarização.

“Quando se grita ‘sem partido’, nós vemos aí um grande pedido. E não há democracia sem partido. Não há democracia sem uma forma mínima de instituição. Sem partido, no fundo, é ditadura. Temos de ficar muito atentos a isso. Então, é um momento de celebrar e, ao mesmo tempo, é um momento de apreensão e de convidar a sociedade para que haja uma disputa pela democracia de verdade, que se faça representar por partidos que, de fato, representem o povo e que não compactuem com a corrupção”, afirmou o ministro.

Para o ministro, “a classe política paga o preço por isso (pelos protestos)” e a imprensa é responsável pela descrença da população com a política. “A imprensa teve um papel nesse sentido, de estimular um tipo de moralismo no sentido despolitizado e um tipo de antipolítica, que leva a isso que está acontecendo também”, declarou. 

Por: Agência Estado